Os
gaúchos estão comemorando dez anos de Piauí. Eles
chegaram à Serra Branca, na zona rural do município de
Uruçuí, no Sul do Estado, em março de 1999, determinados
a transformar a erma região dos Cerrados piauienses num
grande centro produtor de grãos, principalmente de soja.
Uma década depois, o Piauí
alcança uma das maiores produtividades do Brasil e
chegou ao final da safra 2007/2008 com uma produção
superior a 1 milhão de toneladas de grãos, fazendo de
Uruçuí o segundo município piauiense em arrecadação de
ICMS e um Produto Interno Bruto (PIB) quase três vezes
maior que o da capital, Teresina.
Saga -
“Esta é a história de pessoas que saíram de muito longe,
em busca de novas terras, novas conquistas, igual a
história do Brasil”, define Tarcísio Balsan,
vice-presidente da Associação dos Produtores Rurais de
Serra Branca Nova Santa Rosa, ele próprio um dos
pioneiros que desembarcaram em plena mata e abriram
clareiras para armar as primeiras barracas de lona, que
serviram de abrigo inicial às 35 famílias que trocaram a
cidade gaúcha de Santa Rosa, a 600 quilômetros de Porto
Alegre e pioneira no cultivo de soja no Brasil, pela
solidão dos Cerrados do Piauí. “É um sonho de muito
trabalho e de muitas dificuldades, mas que está se
tornando realidade”, completa Balsan.
Outro pioneiro que não
esquece março de 1999 é Alcino Luiz Traesec,
recentemente eleito presidente da Associação de
Produtores Rurais de Serra Branca Nova Santa Rosa:
“Nossas famílias chegaram em cima de caminhões, onde
também vinham as máquinas, os tratores. Isto aqui era só
mato, não tinha estrada, não tinha luz, nem água”.
Encontrar água para beber
e para uso doméstico e asseio foi o primeiro desafio.
“Chegávamos a andar até 40 quilômetros para conseguir
água”, diz.
Alcino Traesec adianta
que ele e seus companheiros de viagem tiveram que
começar do zero, abrindo clareiras para a construção de
barracos, construindo as primeiras estradas e perfurando
poços. “Aos poucos nossa comunidade vai melhorando, mas
ainda necessitamos de muita coisa, principalmente de
energia”.
Mesmo com as
dificuldades, não esconde a satisfação ao mostrar os
resultados que já conseguiram. A agrovila Nova Santa
Rosa, nome dado em homenagem à cidade de origem, no Rio
Grande do Sul, hoje, já abriga 125 famílias e cultiva 35
mil hectares de grãos, principalmente de soja, com uma
produtividade média de 50 sacas por hectare.
Os números mais recentes
disponíveis justificam a satisfação dos gaúchos. Nos
últimos dez anos, a área da cultura de soja nos Cerrados
do Piauí cresceu 858%, enquanto a do Brasil cresceu 64%;
a produtividade cresceu 1.361%. O PIB de Uruçui é de R$
19.471 por pessoa, bem distante do de Teresina, que é de
R$ 7.482, e de Picos, de R$ 6.116.
Segundo o governador
Wellington Dias, que esteve em Nova Santa Rosa no último
dia 26, para participar da II Festa da Soja organizada
pela comunidade, para marcar o início da colheita de
grãos, desde 2001 Uruçuí é a região que mais cresce no
Brasil, alcançando uma taxa média de 37% durante sete
anos seguidos.
Geisa Marcolino chegou a
Nova Santa Rosa com apenas 15 anos de idade. Veio
acompanhando os pais e não esconde que o começo foi
desanimador. “Foi muito difícil, faltava tudo”.
Hoje, casada com o
paranaense Wilson Marcolino, que conheceu em Nova Santa
Rosa, já é mãe de Eduardo, de 7 anos, e de Brenda, de 4,
dois Piúchos - nome que dão às crianças que nascem no
Piauí, por representar uma junção de gaúcho e piauiense.
Aos 25 anos, Geisa
Marcolino virou locutora. É dela a voz que anima os dias
de domingo, em Nova Santa Rosa, através da rádio
Princesa do Sul, montada pelos pioneiros para divulgar e
manter viva a cultura gaúcha entre os produtores rurais
da região. “Nossa rádio é modesta e funciona somente aos
domingos, basicamente com músicas do Sul e avisos para a
comunidade”.
Mas no dia 29 de março, a
grande atração da rádio Princesa do Sul, anunciada por
Geisa Marcolino, foi uma entrevista com um quase
conterrâneo, o ministro da Agricultura, Reinhold
Stephanes, que é natural de Santa Catarina, mas que fez
carreira política no Paraná. O ministro esteve em Nova
Santa Rosa acompanhando o governador Wellington Dias, na
festa da soja. A entrevista, gravada por Geisa, foi uma
conversa alegre, de irmãos que moram distante e que se
reencontram por poucas horas.
Desenvolvimento
- Para o governador Wellington Dias, não há dúvida de
que a região avançou muito. Ele lembra que até 2005 os
Cerrados eram uma área isolada, sem estrada e com
energia de baixa qualidade, às vezes sem força para
fazer funcionar um simples aparelho de televisão.
Wellington Dias revela
que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já
investiu mais de R$ 700 bilhões no setor elétrico do
Piauí, inclusive nos Cerrados. Foi este investimento que
garantiu a energia de qualidade que chega a Uruçuí e aos
demais municípios da região. “Para se ter carga elétrica
aqui, foi preciso o governo construir uma linha de
transmissão ligando a cidade de Estreito, no Maranhão, a
São João do Piauí e Elizeu Martins, de onde agora chega
energia para Uruçuí”.
Adiantou que, ampliar a
rede de distribuição de energia não é apenas “puxar
fios”, mas fazer obras que garantam o reforço da carga
elétrica e energia para as ligações domiciliares e
também para mover as máquinas das indústrias. "Quando
assumi o governo, a Bünge, a maior empresa dos Cerrados,
ameaçava fechar suas portas por falta de energia para
fazer funcionar seu parque industrial. Agora, Uruçuí já
tem sua subestação e Nova Santa Rosa também terá a sua,
para garantir o atendimento da demanda local”.
No caso da agrovila, o
governo vai implantar a rede de baixa tensão e garantir
as ligações domiciliares. A rede de alta tensão está
sendo construída em parceria com os produtores rurais.
“Na próxima licitação do Programa Luz para Todos, de 11
mil ligações, já serão incluídas áreas desta região”,
garante.
Quanto às estradas, o
governador disse que muita coisa já foi feita. Cita a
ligação asfáltica de Uruçuí com Ribeiro Gonçalves e as
obras em andamento do asfaltamento de trechos como
Jerumenha-Bertolínia-Antônio Almeida. A partir do trecho
Jerumenha-Bertolínia, faltam cerca de 90 quilômetros
para o asfalto chegar a Uruçuí. Já por Antônio Almeida,
o trecho sem asfalto é de apenas 60 quilômetros. “Até
2005, isso aqui era uma região isolada, sem energia e
sem estrada, mas de lá para cá já avançamos muito. E
vamos continuar avançando”.
O governador disse
esperar que, no próximo mês de maio, esteja pronta a
modelagem da Parceria Público Privada (PPP) que vai
garantir a construção da Transcerrados, uma rodovia de
430 quilômetros de extensão que vai beneficiar toda a
região dos Cerrados do Piauí, a um custo que pode chegar
a R$ 500 milhões, devido a falta de matéria-prima na
região.
Para garantir a
construção da estrada, o governo irá autorizar a
cobrança de pedágio na Transcerrados. Segundo Wellington
Dias, o próprio governo subsidiará o pedágio até que a
rodovia se torne autosuficiente. “Pelo elevado custo da
obra, esta é a maneira que encontramos para resolver o
problema”.
Ele defende que a região dos
Cerrados seja beneficiada por uma futura ligação das
ferrovias Transnordestina, no Piauí, e Norte-Sul, no
Maranhão. Seria, no seu entendimento, a melhor maneira
de garantir o escoamento da produção de grãos dos dois
Estados.
O trecho da
Transnordestina no Piauí ficará pronto até 2010. A obra
será atacada simultaneamente em quatro trechos de cem
quilômetros, com mil operários trabalhando 24 horas por
dia em cada um deles, a um custo que deverá passar de R$
1,4 bi.
“Os Cerrados representam
uma grande vitória da produção brasileira e piauiense.
Com eles, o Piauí passou de 500 mil toneladas de grãos
em 2003, quando assumi o governo, para uma produção de 1
milhão de toneladas na safra 2007/2008, e poderá chegar
a 2 milhões de toneladas na próxima safra. Com certeza
avançaremos muito mais”, conclui.